terça-feira, 28 de junho de 2011

Batismo.

Imagine-se no topo de uma cachoeira, com a temperatura à beira de 0º C, olhando a queda d'água perder a luta contra o gelo. Imagine-se nu nesse lugar. Veja-se com a respiração condensando e perceba que você não sente mais seus dedos de tanto frio.

Mergulhe na água.

Não feche os olhos. Veja a cor deixar seu corpo. Sinta sua pele se dilacerando como se um milhão de agulhas lhe penetrassem a alma. Resista até o último instante, até que a morte esteja cara a cara com você.

Então emirja.

Não sabe que deve conhecer a si mesmo? Não sabe que só você deve conhecer a si mesmo? Não sabe que, o íntimo, o último muro, a alma, são só seus e não lhe é dado compartilhar com mais ninguém?

Pois saiba. Nenhum ser humano – nenhum – merece ver sua alma. Aquele que a vê te tem nas mãos, e você não mais é senhor das próprias emoções. Percebe o perigo, a maldição? Percebe quão irremediável é a falha? Percebe quão idiota foi ao fazer isso?

Você nunca mais será a mesma pessoa.

E é por isso que você está aí, mergulhado em quase-gelo. Você está sendo batizado.

Você está se tornando uma nova pessoa. Não se pode ser o mesmo quando lhe arrancam a alma. Não se pode ser uma pessoa sem alma.

Talvez lhe devolvam a sua. Não conte com isso. Não queira sua alma de volta.

Cada atitude lhe transformará em um novo ser. Não dê passos para trás. Cada atitude lhe transformará em um novo ser. O tempo dirá se é um anjo ou um demônio.

Saia da água.

Seu novo eu está prestes a despertar.

sábado, 4 de junho de 2011

Maldita dávida de falar.

Existe um velho ditado popular que diz que quem fala o que quer, escuta o que não quer.
Eu estou trabalhando em duas possíveis novas versões para ele.
A primeira, mais amena, diz: "quem fala o que quer não escuta resposta."
É uma espécie de filosofia de vida, sabe?
Eu tenho tantos argumentos, mas o melhor deles, definitivamente, é ignorar.
É parar de se importar.
Não vale a pena discutir quando se está certo.
Deixe que a pessoa, idiotamente, reconheça o erro da maneira mais dolorosa possível, ou até mesmo quando for tarde demais.
Se ela se importa com você, ela volta atrás no que disse.
Se ela não se importar, ela não volta, e então você vai ter abreviado uma coisa que nunca teria um futuro promissor, afinal, ela não se importava com você.
A segunda, bem mais perigosa, eu vou usar só em um momento.
Num momento em que eu tiver a certeza de que nada mais tem volta.
Por enquanto, deixe que digam, vou ignorar enquanto for suportável.
Quando não mais o for, simplesmente direi que "quem fala o que quer, corre o risco de que o que falou se torne verdade"
E então, aquele que disse não terá nem do que se lamentar. Você simplesmente fez o que ele disse.
Dane-se se estiver certo ou errado.
No meu caso, por exemplo, eu estou certo.
No começo me esforçava pra provar, quando posto à prova, mas com o tempo vi que era esforço em vão.
Se a pessoa não confia em você, mesmo depois de exaustivamente demonstrado que o pode, não há razão pra enfiar isso na cabeça de alguém.
Eu não fiz nada até agora, embora você não pare de acusar que fiz.
Uma hora eu solto meu ditado novo e passo a fazer, e você que conviva com as próprias palátras àsperas que usou pra me ofender.
Satisfações eu só devo a mim mesmo.