quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Far


Sit over a mountain, up into a skyscreaper, flying on a airplane
I don't know ecxatly what I need
I need no horizons
I need to feel that nowhere is far

I need to feel I can reach all the world
maybe I'll feel free, then.
But over a moutain is not enough
feel like there's no where to call enough

Maybe that's why I love the stars, and Mars
they make my troubles look so small
as small as my sight
and like nowhere is far

But they are so far to see from a skyscreaper
I'll never be there
my troubles are here
and there's nothig that I love for here

I guess that's it
I dont look for freedom. There's no freedom
I look for a reason to be jailed
Cuz we are all jailed in this world


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Passado.



E se perguntarem de mim, diga que eu me perdi em algum lugar do passado. Diga que eu provei de uma felicidade tão intensa, que me fazia tão forte e otimista, que esqueci do tempo e mergulhei no passado atrás dela outra vez.
Se perguntarem, diga que fisicamente eu estou bem. Diga que não se sabe o que houve com minha alma.
Diga para não deixarem recados, para não me esperarem para compromissos. Se perguntarem, diga que talvez eu demore muito tempo para retornar.
Diga que eu fui atrás de alguém que nem você sabe quem é, que fui atrás dos melhores sentimentos dessa pessoa. Diga que eu disse que mergulharia bem fundo atrás deles.
Diga que, antes de ir, eu andei por madrugadas seguidas atrás de um cheiro, farejando a brisa, e não encontrei. Diga que encontrei maravilhas na noite, mas não encontrei a que eu queria.
Diga também que outras pessoas surgiram. Pessoas certas, nos momentos errados. Se essas perguntarem, digam que eu dei o meu melhor por elas, ainda que eu saiba que meu melhor não foi o suficiente.
E se insistirem, digo, se quem sabe do ocorrido insistir, diga para mergulhar comigo. Diga que qualquer voz que soe mais alto que a minha é bem vinda para testemunhar em meu favor.
E, por fim, se aquela pessoa em especial perguntar por mim, diga que nada mudou. Diga que é dela que eu fui atrás, meio sem rumo, meio sem crença. Diga que eu não vivia por completo depois de tudo, então fui atrás da plenitude, que eu sabia em que braços encontrar; só não sabia se encontraria os braços certos. Diga que mudei, diga que amadureci e, por fim, diga que eu não cometo os mesmos erros duas vezes.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Versos de um coração qualquer




Em algum lugar no sótão da igrejinha, perto do vitral, há de estar lá.
E toca notas longas na tarde abafada, o órgão.
Não sei se é de um dia do passado, ou vindouro dia dourado
Mas lá toca, triste e alegre, minha felicidade.

Tocam em tom de ré, que combina com o sol do dia
Mas há o luto, que me faz chorar até agora
Não sei de que fala a letra
mas é triste, apesar de o dia ser alegre.

E eu sozinho, tocando o órgão
Não preciso de mais nada, a canção preenche minha alma
E bom se fosse, se o tempo parasse ali mesmo
e bom se fosse se o tempo voltasse pra sempre

E por que choro em cada nota?
Acho que me lembro do meu avô, não sei
ou do pai de uma amiga, ou de algo que eu achei que tinha
O que eu fiz de mim mesmo?

Talvez devesse ser mais emoção, menos razão
Ou então sonhar mais baixo
Como se sabe onde é o chão no espaço?
Como é a dor que se sente em outra estrela?

Talvez não haja dor em outro planeta
E lá esteja um outro eu, tocando o mesmo órgão
Com a mesma canção triste-feliz
Mas as notas reverberam menos vivas.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A lógica dos tristes




E depois de muito pensar, eu ando chegando às mesmas conclusões de dezesseis anos atrás, quando eu via as coisas de um jeito mais ingênuo, mas que, invariavelmente, resultaram no mesmo destino.
Qual o sentido da vida? Sem entrar em diálogos com Deus ou o Diabo, céu o inferno... Por que estamos aqui?
Não sei. Não faço a menor ideia. E não me parece que algum dia vou chegar perto de saber. Viver não é encontrar um sentido para a vida, mas sim tocar as coisas pra frente sem entender esse sentido. Viver é ir tocando o barco, sempre a frente.
Viver não tem sentido, tem objetivo. Já que nunca vou saber o porquê de estar aqui, não devo perder meu tempo procurando a resposta. Mais inteligente seria perguntar para que estou aqui.
E só uma resposta me vem a cabeça: ser feliz. Não consigo conceber qualquer outro motivo para uma pessoa existir. Pensar que uma pessoa existe pra mudar o destino da outra é admitir que existem pessoas que têm um destino e pessoas que são instrumentos para que as outras atinjam esse destino. Nada mais ridículo. Não preciso sequer pensar para entender que, na alma, todas as pessoas devem ser tratadas como iguais, como num mesmo patamar. Quero dizer, no mundo você pode julgar as pessoas pelas suas atitudes, pelos seus comportamentos. Cada um sabe o que faz da própria vida. Mas, antes dessas atitudes e comportamentos, antes de qualquer ato,  no ponto de partida, todos são iguais. Por isso ninguém está aqui para mudar a vida de ninguém. Pode até ser que o faça em algum momento de sua existência, mas esse não era seu objetivo aqui.
O objetivo de qualquer pessoa é ser feliz, o que implicar em definir o que é a felicidade, o que por sua vez é uma tarefa impossível. Se você me disser o que te faz ou faria feliz, com certeza eu vou discordar em vários pontos. E certamente você vai discordar da minha visão de felicidade. É lógico: se todos entendessem a felicidade como uma coisa objetiva, posta às claras para o público e idêntica para todos, todos iam cobiçar uma mesma coisa, e isso não daria certo. Assim, sendo a felicidade variável, torna-se perfeitamente possível que, num mundo com mais de 7 bilhões de pessoas, existam mais de 7 bilhões de tipos de felicidades, e cada um busque a sua a seu modo. 
O que me parece necessário, no entanto, é que cada um decida o que é felicidade para si, e só. Não venha você, não venha ninguém dizer o que é melhor pra mim. Sou eu quem sabe da minha vida. Mesmo que você conviva diariamente comigo, você nunca vai ter passado pelas mesmas emoções, dores e alegrias que eu. Eu sou o dono do meu próprio destino. Só eu sei dos meus sonhos.
Divagado tudo isso, é que eu cheguei à conclusão: minha felicidade custa caro demais. Não sou modesto, reconheço. Eu sonho alto, não me contendo com pouco. E não estou falando (só) de dinheiro. Estou falando que a minha felicidade depende de um estado de coisas que envolve tantas variáveis, que dificilmente todas elas se combinariam do jeito que eu quero. E nenhuma outra combinação me faria feliz. Nenhuma. Daí a falta de modéstia, de humildade, em achar que todo o mundo giraria a meu modo só para me fazer feliz. 
É óbvio que não vai, por isso minha felicidade custa caro demais. Isso implica em outro raciocínio: dificilmente eu serei feliz. É pura matemática. Quanto maior o número de variáveis, maior o número de possibilidades; e quanto maior o número de possibilidades, menor a probabilidade de uma delas acontecer. Minha felicidade é um cenário fático perdido entre outros milhões. 
Então me restam duas alternativas: a primeira delas, que é o que venho fazendo desde os 6 anos de idade, é jogar na loteria. Tenho o bilhete da felicidade guardado na mente e, tudo que eu tenho que fazer, é torcer pra que ele seja sorteado. Ou seja, mais excesso de pretensiosismo da minha parte, que além de ser feliz, quero ousar ser sortudo.
A outra me parece muito mais fácil, mais lógica: abreviar o fracasso. Se uma coisa tem 99,9% de chances de dar errado, você a faria? Ou insistiria em a fazer? Sem moralismos e discursos heróicos, por favor. Então, viver, no meu caso, é fazer uma coisa que tem 99,9% de chances de dar errado. E cá estou eu, vivendo, com meu bilhete de loteria na mão, espalhando a infelicidade alheia por onde passo. 
É egoismo, sabe, continuar vivendo e deixando pessoas importantes tristes na esperança de uma felicidade que certamente não virá? Sair por aí semeando desgosto por uma coisa que, no fim, não vai ter valido a pena? Isso, deixando claro, que só há uma alternativa: ou vive-se e destoi-se a vida alheia, ou morre-se.
Minha felicidade custa caro. Custa a felicidade de outras pessoas. Então, em sendo assim, desistir de ser feliz é um ato de covardia ou de heroísmo? É falta de amor próprio ou excesso de amor alheio? E insistir em ser feliz é egoismo ou determinação? Insistir em ser feliz é um fim que justifica os meios?
Não sei a resposta. Sei que, se eu não estiver aqui, não precisarei me importar com as respostas.
E a cada dia que passa, eu tenho me importado menos com as coisas.

sábado, 4 de agosto de 2012

Perfeição desfeita.


Olhe, pois, a aberração
Observe bem o pobre diabo que pôs no mundo.
Veja como é horrível, com dois braços e duas pernas.
Perceba que hediondo, com esse tronto ereto.
Olhe, pois, a aberração
de mil talentos disperdiçados
em adoração à sua origem
e façanhas de nenhuma importância
Olhe, pois, a aberração
de cabelos lisos, tão normais
de mente brilhante, e você sabe
de mente brilhante e perturbada.
Olhe, pois, a aberração
que tal como você, carrega um coração
que bate, que luta, que sente
Que você fez questão de quebrar em cem pedaços
Olhe, pois, a aberração
Tão simétrica, tão parecida
com o ser humano que lhe dera vida.
Olhe nos seus olhos, e perceba o nojo que nela despertou.
Olhe nos seus olhos, antes lindos, agora chorosos
Triunfe, anomalia. Sua cria desgarrou.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Amores Antagônicos




Seu Deus não existe.
Como pode um Deus de amor condenar o amor?
Como pode o amor incondicional impor condições ao próprio amor?
Como pode o destino de quem ama ser o inferno?

Suas condições são pesadas demais para mim
eu, que passei longe do perfeito, aos seus olhos sou ainda pior
Não há o que ser feito
Eu sou o que sou, por mais que você, infelizmente, não suporte isso

E você consegue tornar tudo tão pior
consegue me deixar mais sem chão do que eu já estou
Age como se eu fosse um monstro, um demônio, um traidor
E se esquece que não fui eu quem escolheu isso tudo

Pode alguém ser condenado por algo que não escolhe?
Pode? Pelas leis dos homens, pelas leis de Deus, pelas leis da lógica?
Pelas leis do amor?
Se pode, Deus não existe.

Se pode, continue me tratando assim.
Porque eu suportaria a reprovação do mundo, se preciso
Mas não suportaria a sua reprovação
Principalmente quando tudo o que eu fiz foi tentar te poupar

Eu nunca vou satisfazer suas expectativas
Não que eu não quisesse, mas porque eu não posso
como não pode uma árvore estéril dar frutos
Nem que se reze incessantemente pro seu Deus.

Já me tiraram a fé
Já me tiraram um bom coração
Não me tire as raízes, por favor.
Não me faça renunciar a um amor.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Você e meus pensamentos


Inconscientemente, quando meus pensamentos se esgotam e um vazio sem fim habita minha mente, lá está você.
Você e seu jeito de falar, que ecoa nos cantos da minha cabeça, trazendo você pra perto de mim.
Você está aqui. Tem que estar.
Não é possível que eu ainda consiga guardar tantos detalhes de você, mesmo de tão longe.
E são detalhes tão bobos, tão triviais, que eu nem sei porque me apego a eles.
E quando as pessoas falam bem de você, tenho que me esforçar pra disfarçar que estou me derretendo.
E quando falam mal, tenho que me esforçar pra te defender sem parecer apaixonado demais pela causa.
E quando não falam de você, eu mesmo o faço.
Você é meu assunto o tempo todo.
E quando minha mente se esvazia, você ainda está lá.
Você foi capaz de varrer com uma luz dourada os maus pensamentos que eu cultivei por longos meses, ainda que não saiba disso.
Você é a única pessoa no planeta que pode me acordar, sem que eu fique uma fera com isso.
Sim, você me doma, mas ao mesmo tempo me deixa mais selvagem do que nunca.
Você me entorpece, você me enlouquece.
e de uma loucura tão forte que, quando nada mais existe aqui dentro, lá está você.
E seu cheiro, que às vezes me vem à lembrança.
Seu cheio é calmante. Não, é excitante. Esquece, não ouso tentar definir.
Não ouso pensar em outra coisa
A não ser em seus detalhes, que permeiam vagos sonhos.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Racional, Louco.






E cá estava eu, pensando sozinho, e dizendo a mim mesmo que você merecia as melhores palavras que eu conseguisse organizar.
Você é diferente de tudo o que já me aconteceu.
Você veio pelo lado certo: eu conheci você, seu caráter, seu coração, e só depois de formar uma opinião, seus lábios.
Com você as coisas não aconteceram do avesso. Olhando pra trás, parece que cada momento foi estrategicamente bolado pelo destino pra nos levar ao mesmo lugar.
Você sabe como minha mente funciona. E eu sei os engenhos da sua.
Ainda assim, eu amo o jeito como tudo em nós era completamente inesperado.
Adoro a paz que encontro em você. Adoro a falta de sossego que você me dá.
Adoro a surpresa de saber que sua pele é tão macia e de que você, no fim das contas, tem coração. E um coração lindo, que eu jamais imaginei.
Por tudo isso, a sensação que você me dá é te ter encontrado ouro em lama.
De ter encontrado algum ser místico, de duas almas.
Uma alma forte, autoritária, que me protege.
Outra alma, frágil, inexperiente, que é protegida por mim.
Duas almas que, juntas, formam tudo o que eu sempre esperei de alguém.
Eu poderia ficar por oras, escrevendo, escrevendo, e jamais encontraria o jeito certo de dizer o que eu quero. Qualquer palavra me parece insuficiente pra atingir o nível de sentimento que eu quero expressar, por maior que pareça esse clichê.
Talvez você saiba a palavra certa, afinal, você parece saber completar meus raciocínios como ninguém.
Ou talvez eu não devesse me preocupar com palavras. As mais bonitas são as que você me diz e que não são só palavras, são a verbalização de atitudes.
De alguma forma, você tem o mapa da mina, ainda que, às vezes, não o utilize, como se me desse a opção de escolher antes de enlouquecer.
Mas com você, eu escolho enlouquecer.
E, como louco, me dou ao luxo de ser desconexo e incompreendido.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Meus pulsos estão em carne viva.
Minha pele não é acostumada ao toque da corrente, de ferro frio e dilacerante
Meu espírito não é acostumado à prisão.
Pode me prender, eu me conheço.
Eu vou gritar em fúria, até não ter mais forças.
Por um tempo, eu vou ficar cabisbaixo, sem acreditar em mim mesmo.
Mas quando eu me erguer, ah sim, quando eu me erguer
Eu vou arrebentar essas correntes na força
E vou pra cima de você, com todo o ódio, com toda a gana.
Vou fazer você se arrepender por casa segundo que me fez prisioneiro, que me fez impotente.
Meus pulsos estão em carne viva, e sangram.
Minha pele está machucada, apodrecendo.
Mas meu coração pulsa como o de um leão jovem
e meu cérebro trabalha como o de uma raposa astuta.
Nunca prenda um animal selvagem.
Mais cedo ou mais tarde você abaixa a guarda.
E, quando vir, você verá o próprio sangue jorrando, em vingança.
E um uivado distante, solitário, fraco, mas vencedor.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Não me importo.




Você foi um desperdício de tempo, eu demorei pra ver isso.
No começo, eu queria vingança e estava me divertindo com as oportunidades que você proporcionava, mas até isso já perdeu a graça em você.
Diga: que bem você me faz, além de permitir que eu cuspa boas tiradas na sua cara?
Você não faz bem nem a si mesmo.
Você busca soluções momentâneas pra coisas que eu um dia, em devaneio, eu estive disposto a resolver com você, ainda que me doesse. Ainda que você me xingasse por isso.
Você reclama maturidade do mundo à sua volta, mas age como uma criança mimada quando o mundo não gira no seu compasso. E ainda esbraveja se constatam isso na sua cara.
Você não manda nem no próprio umbigo pra um dia pretender mandar no meu.
E falando em umbigos, você deveria olhar menos para o seu.
Olha, sinto muito se você acha que eu já fui mais legal. Eu sou esse insuportável mesmo, e dessa vez não há força na terra que me faça agir diferente com você.
Antes eu fazia a ressalva, para o caso de você mudar. Hoje eu não acredito nessa mudança.
A pra ser sincero, nem me importo mesmo.
Tentei ser legal e tive que me ajoelhar. Já viu orgulhosos ajoelhados por muito tempo?
Já viu humildes obrigando os outros a se ajoelhar?
Eu não.
Estou muito bem de pé, e pretendo continuar assim.
Talvez você julgue que eu esteja te obrigando a se ajoelhar dessa vez.
Não estou, mas que se dane. Parei de me importar a muito tempo.
Você teve muito tempo pra ficar de pé ao meu lado, até que um dia eu desisti.
Agora sou feliz caminhando sozinho.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Apatia

Dê-me algum alucinógeno
E talvez minha mente divague por caminhos menos sombrios
E talvez eu caminhe por trilhas certas
porque eu caminho para um abismo maldito
Onde o céu é cinza e as árvores, mortas.

Dê-me algo para pensar, algo pelo qual lutar.
Já que me despiram de esperanças.
Dê-me outra dose de emoção, estou viciado
Dê-me boa música e boa companhia
E a madrugada falará por nós.

Dê-me um par de braços quentes
de alguém que vire as coisas de cabeça para baixo
Dê-me seu humor tempestivo, e mãos macias
e atitudes imprevisíveis
E mais batimentos por minuto.

Ou leve as lembranças, de todos os amores enterrados
lembranças são frustrantes
Dê-me o vento no rosto outra vez.
E as gotas de chuva, as estrelas, e o mundo inteiro
Sinto falta do mundo real.

Dê-me novos ares, ou me permita voar nos antigos outra vez.
Dê-me satisfação no ócio, e as cores de volta.
O abismo é logo ali, e até cair parece emocionante.
Dê-me novos sonhos, novas realidades
Ou me prive, em definitivo, de toda essa consciência.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Ruindo.




Era como se eu tivesse estado cara a cara com a Medusa, como se eu tivesse me tornado um corpo feito de pedras.
Eu estava inerte, estagnado, como se tudo que eu pudesse viver já estivesse no passado.
Eu era uma estátua em meio aos seres humanos.
Não, numa noite, resolveram me perguntar: "Qual é o seu limite? Até onde você vai?"
E eu, intimamente, me fiz a mesma pergunta, ao mesmo tempo que meu coração voltava a bater.
Eu provavelmente tenho, sim, um limite. Mas eu não cheguei nele, ainda.
Ser uma estátua da decoração não podia ser meu máximo. Não podia.
E então minha pele ruiu, rachando em milhões de pedaços de pedra branca. Pedras rolaram, pedras voaram pelos ares e embaixo, adormecida, uma erupção me veio a flor da pele. Eu era pura lava, puro ardor. Eu era, então, humano.
Humanos normais não veem o futuro. Portanto, humanos normais não podem se permitir impor limites.
Perguntaram qual era o meu limite, e eu não soube responder.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Silêncio voluntário




Eu tenho minha voz de volta, meu tom natural.
Eu poderia gritar em queda livre, ou sussurar alguma canção, ou te fazer ouvir tudo aquilo que eu guardei comigo nos tempos de mudez.
Eu poderia entoar toda a merda que você merece ouvir, do tipo "foi você quem me deixou escapar. Não faço mais parte da sua vida porque você quis."
Eu poderia dizer coisas sobre a sua falta de caráter, de um jeito particularmente doloroso, como só eu sei fazer.
Mas pra quê?
Eu disse, quando você me calou, que uma hora o vento levaria o que não era verdadeiro,e ele levou.
Eu disse que, cedo ou tarde, você me ouviria, e, olhe só, você está de joelhos, suplicando por uma palavra minha.
Sinto muito, você perdeu a chance de me ouvir.
Tudo que vai ter de mim agora é uma amizade morna e conveniente, descartável a qualquer momento. Não terá conversas na madrugada, não terá conversas durante o dia. Não me terá preocupado com você.
Acostume-se a me ver deixando você para o segundo plano. Você quis assim.
Não ouse proferir uma sílaba para reclamar, ou eu despejo mil razões para ser ainda pior com você.
Meu corpo ainda tem o mesmo calor, mas meu coração está mais gelado que nunca.
O que você esperava ao tocar meu ombro? Que eu sorrisse, esquecesse meses de dor e agisse como se fosse seu melhor amigo?
Não. Vou te tratar como você me tratou, sempre.
Você tocou meu ombro uma vez, suplicante, e eu te ignorei.
Toque mais uma vez e eu parto seu coração com meia duzia de palavras.
Você não quis ouvir quando eu disse que seria bom.
Agora sou mau, e não perdi meu tempo tentando te dizer.
Minhas palavras são preciosas demais para chegarem aos seus ouvidos.