terça-feira, 28 de junho de 2011

Batismo.

Imagine-se no topo de uma cachoeira, com a temperatura à beira de 0º C, olhando a queda d'água perder a luta contra o gelo. Imagine-se nu nesse lugar. Veja-se com a respiração condensando e perceba que você não sente mais seus dedos de tanto frio.

Mergulhe na água.

Não feche os olhos. Veja a cor deixar seu corpo. Sinta sua pele se dilacerando como se um milhão de agulhas lhe penetrassem a alma. Resista até o último instante, até que a morte esteja cara a cara com você.

Então emirja.

Não sabe que deve conhecer a si mesmo? Não sabe que só você deve conhecer a si mesmo? Não sabe que, o íntimo, o último muro, a alma, são só seus e não lhe é dado compartilhar com mais ninguém?

Pois saiba. Nenhum ser humano – nenhum – merece ver sua alma. Aquele que a vê te tem nas mãos, e você não mais é senhor das próprias emoções. Percebe o perigo, a maldição? Percebe quão irremediável é a falha? Percebe quão idiota foi ao fazer isso?

Você nunca mais será a mesma pessoa.

E é por isso que você está aí, mergulhado em quase-gelo. Você está sendo batizado.

Você está se tornando uma nova pessoa. Não se pode ser o mesmo quando lhe arrancam a alma. Não se pode ser uma pessoa sem alma.

Talvez lhe devolvam a sua. Não conte com isso. Não queira sua alma de volta.

Cada atitude lhe transformará em um novo ser. Não dê passos para trás. Cada atitude lhe transformará em um novo ser. O tempo dirá se é um anjo ou um demônio.

Saia da água.

Seu novo eu está prestes a despertar.

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