terça-feira, 27 de setembro de 2011

Tesouro




Há luz ante meus olhos. Eu fico contemplando, em silêncio, minhas conquistas, espalhadas pelo chão, como fragmentos desconexos de um passado qualquer. Ainda brilham, mas estão a cada dia mais ofuscadas pelo tempo.
Por que diabos nenhuma delas me satisfaz? No instante que as conquisto eu me sinto flutuar, mas no segundo seguinte, elas simplesmente não são suficientes. Aí ficam assim, amontoadas pelo chão, juntando poeira.
O que eu preciso para ter algo duradouro? Algo que, daqui há dez anos, eu olhe e perceba que ainda brilha com a mesma intensidade? Não vejo nada assim no meio das minhas tralhas.
Eu só queria finalmente ter o que eu quero. Estou cansado de conquistar vitórias, que, no fim das contas, não fazem de mim um vencedor. Só trazem frustração, sensação de impotência e, cada vez mais, apatia. Talvez eu tenha ido com muita sede ao pote, gasto todas as minhas energias e não ter chegado em lugar nenhum.
Preciso de algo sólido, algo real. Preciso de resultados, porque objetivos eu já tive vários.  Algum deles eu atingi e, quando o fiz, só vi que ainda não era o que eu queria, aí joguei a conquista no canto. Alguns eu desisti, porque sabia ser esforço em vão. E, ali, no meio da pilha de conquistas, eu vasculho fundo, e não vejo resultado.
O que está faltando? Preciso da resposta, pois estou ficando velho demais para colacionar tranqueiras.

domingo, 11 de setembro de 2011

Redenção



Confesso: ver-te tão de perto depois de tanto tempo ainda faz meu peito doer.
Ter você ali, a centímetros de distância, e não poder te tocar por um milhão de razões ainda é um castigo.
Mas eu olhei pra você e vi muito mais.
Naquele exato momento, era como se toda a dor que você vem me causando nesses últimos meses exalasse de você. E não era só dor; era nojo, era aversão, era vontade de te fazer em mil pedaços, para que tudo, enfim, acabasse.
Você deve ter visto o mesmo em mim. Você viu o mesmo cara de quando você me conheceu: indiferente, sorridente, brincalhão e, o melhor, não dependente de você.
Você deve ter visto um par de asas enorme se assomando ao seu redor e batendo bem forte, fazendo seu odor repulsivo se dissipar em meio à multidão.
Eu vi seus olhos vacilarem por um milésimo de segundo.
Sim, eu estou de volta, o verdadeiro eu.
O idiota que morria por você era exceção.
E essa exceção a cada dia fica mais fraca aqui dentro. Eu sei que toda vez que eu te ver, ela ainda vai se mexer no meu coração, mas agora eu sou forte o suficiente pra fazê-la se aquietar novamente.
Eu nunca estive tão nas mãos de alguém como estive nas suas.
Pior: eu nunca gostei tanto de estar nas mãos de alguém.
Foi você quem ordenou que eu saísse e, olhe só, eu sai.
Não espere nada de mim.
A memória do seu cheiro bom ainda está aqui,
Mas agora eu tenho a memória do cheiro ruim, e esse é bem mais recente.
Talvez, quando as duas tiverem desaparecido, chegue o nosso momento, seja pra voltamos a ser o que éramos, seja para sermos outras pessoas.
Mas antes disso, não se aproxime.
O que os olhos não veem, o coração não sente e o cérebro não relembra.
Isso vale para mim e para você.
Vá em frente e suma.