E depois de muito pensar, eu ando chegando às mesmas conclusões de dezesseis anos atrás, quando eu via as coisas de um jeito mais ingênuo, mas que, invariavelmente, resultaram no mesmo destino.
Qual o sentido da vida? Sem entrar em diálogos com Deus ou o Diabo, céu o inferno... Por que estamos aqui?
Não sei. Não faço a menor ideia. E não me parece que algum dia vou chegar perto de saber. Viver não é encontrar um sentido para a vida, mas sim tocar as coisas pra frente sem entender esse sentido. Viver é ir tocando o barco, sempre a frente.
Viver não tem sentido, tem objetivo. Já que nunca vou saber o porquê de estar aqui, não devo perder meu tempo procurando a resposta. Mais inteligente seria perguntar para que estou aqui.
E só uma resposta me vem a cabeça: ser feliz. Não consigo conceber qualquer outro motivo para uma pessoa existir. Pensar que uma pessoa existe pra mudar o destino da outra é admitir que existem pessoas que têm um destino e pessoas que são instrumentos para que as outras atinjam esse destino. Nada mais ridículo. Não preciso sequer pensar para entender que, na alma, todas as pessoas devem ser tratadas como iguais, como num mesmo patamar. Quero dizer, no mundo você pode julgar as pessoas pelas suas atitudes, pelos seus comportamentos. Cada um sabe o que faz da própria vida. Mas, antes dessas atitudes e comportamentos, antes de qualquer ato, no ponto de partida, todos são iguais. Por isso ninguém está aqui para mudar a vida de ninguém. Pode até ser que o faça em algum momento de sua existência, mas esse não era seu objetivo aqui.
O objetivo de qualquer pessoa é ser feliz, o que implicar em definir o que é a felicidade, o que por sua vez é uma tarefa impossível. Se você me disser o que te faz ou faria feliz, com certeza eu vou discordar em vários pontos. E certamente você vai discordar da minha visão de felicidade. É lógico: se todos entendessem a felicidade como uma coisa objetiva, posta às claras para o público e idêntica para todos, todos iam cobiçar uma mesma coisa, e isso não daria certo. Assim, sendo a felicidade variável, torna-se perfeitamente possível que, num mundo com mais de 7 bilhões de pessoas, existam mais de 7 bilhões de tipos de felicidades, e cada um busque a sua a seu modo.
O que me parece necessário, no entanto, é que cada um decida o que é felicidade para si, e só. Não venha você, não venha ninguém dizer o que é melhor pra mim. Sou eu quem sabe da minha vida. Mesmo que você conviva diariamente comigo, você nunca vai ter passado pelas mesmas emoções, dores e alegrias que eu. Eu sou o dono do meu próprio destino. Só eu sei dos meus sonhos.
Divagado tudo isso, é que eu cheguei à conclusão: minha felicidade custa caro demais. Não sou modesto, reconheço. Eu sonho alto, não me contendo com pouco. E não estou falando (só) de dinheiro. Estou falando que a minha felicidade depende de um estado de coisas que envolve tantas variáveis, que dificilmente todas elas se combinariam do jeito que eu quero. E nenhuma outra combinação me faria feliz. Nenhuma. Daí a falta de modéstia, de humildade, em achar que todo o mundo giraria a meu modo só para me fazer feliz.
É óbvio que não vai, por isso minha felicidade custa caro demais. Isso implica em outro raciocínio: dificilmente eu serei feliz. É pura matemática. Quanto maior o número de variáveis, maior o número de possibilidades; e quanto maior o número de possibilidades, menor a probabilidade de uma delas acontecer. Minha felicidade é um cenário fático perdido entre outros milhões.
Então me restam duas alternativas: a primeira delas, que é o que venho fazendo desde os 6 anos de idade, é jogar na loteria. Tenho o bilhete da felicidade guardado na mente e, tudo que eu tenho que fazer, é torcer pra que ele seja sorteado. Ou seja, mais excesso de pretensiosismo da minha parte, que além de ser feliz, quero ousar ser sortudo.
A outra me parece muito mais fácil, mais lógica: abreviar o fracasso. Se uma coisa tem 99,9% de chances de dar errado, você a faria? Ou insistiria em a fazer? Sem moralismos e discursos heróicos, por favor. Então, viver, no meu caso, é fazer uma coisa que tem 99,9% de chances de dar errado. E cá estou eu, vivendo, com meu bilhete de loteria na mão, espalhando a infelicidade alheia por onde passo.
É egoismo, sabe, continuar vivendo e deixando pessoas importantes tristes na esperança de uma felicidade que certamente não virá? Sair por aí semeando desgosto por uma coisa que, no fim, não vai ter valido a pena? Isso, deixando claro, que só há uma alternativa: ou vive-se e destoi-se a vida alheia, ou morre-se.
Minha felicidade custa caro. Custa a felicidade de outras pessoas. Então, em sendo assim, desistir de ser feliz é um ato de covardia ou de heroísmo? É falta de amor próprio ou excesso de amor alheio? E insistir em ser feliz é egoismo ou determinação? Insistir em ser feliz é um fim que justifica os meios?
Não sei a resposta. Sei que, se eu não estiver aqui, não precisarei me importar com as respostas.
E a cada dia que passa, eu tenho me importado menos com as coisas.