terça-feira, 29 de novembro de 2011

Luto em ricochete




A notícia da morte, por si só, não doeu.

Foi dita brevemente, an passant, como uma informação trivial.

Uma informação trivial que imediatamente me transportou para os lados mais remotos da minha memória, para um dia qualquer da minha infância, num dia de sol, numa cidadezinha que nem me lembro qual é. Só lembro deter estado lá, e de um sorriso de um velho. Só isso.

Não lembro do rosto dele. Mas lembro que o nome dele, há muito tempo, soava como diversão, como férias, e como tantas outras coisas boas, de moleque. E agora isso está morto.

Agora, além de passado, é irreversível.

Mas a notícia não feriu. Ela mais que atordoou, me fazendo pensar em sem sentido. Coisas como saber de onde eu vim, que o sangue que parou naquelas veias é o mesmo do meu, e que talvez, quando eu for velho, aquele seja o formato do meu sorriso.

Mas que homem permanece de pé ao ver sua fortaleza ruir? Isso sim doeu.

Estou de luto pelos vivos, não pelos mortos.

Aos vivos ficam os abraços e as palavras quentes.

Aos mortos ficam o respeito e as lembranças, que hei de manter quentes, também.

Ao morto fica a promessa de fazer seu sangue orgulhoso.

Descanse em paz.

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