terça-feira, 26 de outubro de 2010

A noite em que nevou na ponta verde.

É engraçado o modo como não sentimos nossos dedos no inverno, não é mesmo? Todo o sangue do seu corpo se dirige aos órgãos vitais, como o coração e os pulmões, e os dedos, que são coisas supérfluas, perdem calor.
Algumas nevascas são tão violentas que os dedos sequer resistem ao frio, eles congelam, e têm que ser amputados.

Foi muita pretensão minha pensar que, em tão pouco tempo, eu pudesse estar perto do coração.
Eu não passo da ponta mais distante de um dedo, aquilo que na nevasca, não faz a menor falta.

Quem se preocupa com um dedo quando o que está em jogo é a própria vida?
Ninguém.

Me sinto idiota, sabe? de ter pensado tantas coisas.
A culpa não é sua, eu sei. Alguns sacrifícios são necessários.

Como dizia a música: outras situações em outras circunstâncias...
Lá vou eu imaginar mais uma vez. Preciso parar com isso.

Só me diz como fazer pra olhar pra você e não imaginar como as coisas poderiam ter sido.
Eu só preciso disso, porque elas não vão ser...
Seriam, em outras em outras circunstâncias, mas essas circunstâncias são virtuais
De uma realidade paralela que agora eu não faço mais parte.

Eu fui amputado, fui o sacrifício necessário.
Me diz como continuar agora, por favor.
Por que você acha que eu iria querer alguém melhor que você?
Só se esse alguém me fizesse sentir essa coisa louca também.
Não é amor. Isso eu já senti, várias vezes. Várias análogas vezes.
É algo diferente, que nem eu mesmo sei dar nome.

Alguém consegue me fazer sentir isso?
Duvido.
Mas que importância tem as dores de um dedo jogado no chão, tempos depois de ser cortado fora?
Nenhuma. Dedos cortados não se ligam ao cérebro e nem ao coração.
Dedos cortados não têm emoções.

Preciso parar de teimar em tê-las.

Me explica porque te conheci pouco antes da nevasca.
Me diz se essa merda não faz algum sentido.
Me diz se não foi só comigo.
Me diz qualquer coisa antes de eu ir pro lixo.

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